Data : 17 de Junho de 1977.
Local : Barragem
de Castelo de bode, concelho de Tomar, distrito de Santarém.
Testemunha
: José Francisco Rodrigues ( na altura) 23 anos, furriel da FAP,
pertencente à esquadra 31 de Base Aérea nº.3. Com mais de 850 horas de voo.
Condições
meteorológicas : Visibilidade horizontal de cerca de sete
quilómetros; nuvens (estracto cumulus) a três mil pés, e um pouco de bruma à
distância.
Tipo de observação
: (Escala de
Hynek): EI-2.
Todos, mais ou menos conhecemos a Barragem de Castelo de pode,
integrado no sistema Zêzere Tejo, com um tipo de aproveitamento albufeira,
área de bacia vertente com 3.950 km2, e com uma altura média de queda de 80 m., etc.,
etc., mas passemos aos factos ocorridos nessa zona, sobre um "encontro" de 2º
Grau, em que foi protagonista o (então) furriel Francisco Rodrigues.
CEAFI Pode
dizer-nos o que o levou a observar o objecto?
FR Pelas operações da esquadra, foi-me marcado um voo de
treino na região de Torres Novas, com o avião DO-27 nº. 3460. Descolei pelas 11h15,
dirigindo-me para a zona de trabalho, que abandonei cerca de 25 minutos depois da
descolagem.
Qual o motivo do abandono do local?
... Devido às más condições atmosféricas, de momento, no local.
Seguiu directamente para outro local?
Não. Tive que voltar à base para fazer um "toque e anda" delegado para
alterar a zona de trabalho para Tomar a fim de prosseguir o treino inicial.
Foi então que observou o
"objecto"?
Não. Ao passar pela vertical de Castelo de Bode, cerca das 12h., a 2.000 pés QHN,
observei que as nuvens (estracto cumulus), teriam a base a 2.000 pés.
Chovia na altura?
Não, só apanhei chuva quando regressei depois à base. Decidi então, fazer um voo de
instrumentos e entrar nas nuvens. Andava a "escolher" em que nuvem me havia de meter, quando
vi algo escuro (muito-escuro no meio da nuvem) o que contrastava com o resto que eram
esbranquiçadas!
Isso ocorreu sobre a Barragem?
Nesta altura já devia estar sobre a vertical do que julgo ser uma sub-estação da
mesma.
Qual a sua reacção?
De imediato pensei que seria um avião "cargo" a fazer instrumentos, e que a
frente escura era o nariz do radar... mas vi logo que não podia ser o cargo porque o
nariz do avião era extremamente pequeno em relação ao corpo que via...
Contactou com a torre?
Iniciei a volta pela esquerda e contactei a torre para saber se havia tráfego reportado
nesta zona. Informado negativamente, prossegui a volta solicitando à torre que
contactasse com BATINA (radar), para averiguar a existência de actividade aérea não
identificada por Tancos, na área.
BATINA reportou-se afirmativamente?
Não. BATINA informou negativamente, o que era mentira, pois pelo menos havia um avião
na zona o meu!
Prosseguiu a volta?
Sim prossegui a volta. Ao ter voltado cerca de 315 graus pela esquerda, apareceu-me o objecto
a cerca de 6 metros pelas minhas 11 horas...
O "objecto" estava ainda no
meio das nuvens?
Nesta altura o que julgo ser a metade inferior do objecto, estava abaixo das
nuvens e o restante encoberto. Deu-me a sensação de se encontrar parado ou então a
velocidade reduzida.
Durante quanto tempo observou o
"objecto" a essa distância próxima?
Uns três segundos.
Qual a sua configuração,
coloração e como desapareceu?
Eu só vi o que julgo ser metade do objecto que teria esta configuração (ver
ilustração) ... era escuro quase preto e por baixo umas saliências
que presumo seriam janelas, cujo número não sei. Podiam ser três, quatro, cinco, não
posso precisar. A coloração dessas janelas seria um branco amarelado. Presumo que o objecto
terá partido a grande velocidade já que numa fracção de segundo deixei de o ver!
Voltando um pouco atrás, gostávamos
de saber se saía luminosidade dessas janelas?
Não. Essas "janelinhas" eram de um branco amarelado, e não eram
transparentes.
Disse-nos que o "objecto"
desapareceu a grande velocidade...
Julgo que sim e reparem numa coisa... numa fracção de segundo sucederam várias
coisas. Quando observava o objecto, o avião entrou numa "picada"
incontrolável; deixo de ver o objecto e entro em pânico! Mas não entro em
pânico por ter visto o objecto porque o vi durante uns três segundos ao
meu lado -, mas sim pela "picada" do avião!
Qual terá sido o motivo da entrada
em perda do avião?
Talvez uma possível falha dos filetes de ar na asa. Pois o motor durante a picada,
apresentou fortes vibrações que originariam a "caída" do avião, fora de
todas as características dele.
Fora de todas as características...?
O DO-27, é uma avião de voo lento, e consegue-se mantê-lo a velocidades
incrivelmente baixas sem o fazer cair. Mesmo forçando, seria impossível pôr este avião
na "perda" em que se encontrava. Aliás, dois ou três dias depois, tentei com
um colega colocar o avião nas mesmas condições o que logicamente foi impossível, além
se ser assustador!
Recuperou o controle facilmente?
Não. de tal modo que pensei não me safar daquela vez... activei os comandos no sentido
de recuperar sem que o avião reagisse. Cheguei inclusivamente a activar cruzando os
comandos na tentativa de recuperação levando o "manche" à frente. O
avião atingiu os 140 nós e de seguida os 180. Tentei novamente a recuperação da
atitude da "picada" o que foi conseguido relativamente perto do solo, tendo tido
mesmo a sensação de ter tocado nas árvores existentes na zona. Outra coisa curiosa que
aconteceu, foi quando o avião entrou na "picada" e apresentava fortes
vibrações no motor, o Gyro giroscópio direccional eléctrico enlouqueceu tendo
apresentado um desfasamento de cerca de 180 graus quando recuperou, em relação à
bússola quando prosseguia o voo estabilizado. Quero dizer com isto que antes da picada o
"Gyro" e a bússola estavam acertados. Depois da "picada" quando o
avião estava estabilizado guiei-me pelo "gyro" para ir para a base e quando dei
por ela, estava 180 graus desfasado. Ia para Norte e não Sul!
Tentou contactar com a torre ?
Tentei mas não consegui falar. Na torre ouviram um grito que presumem ser meu!
A "picada" não teria sido
provocada pela existência de uma zona de vácuo?
Julgo que não. Pois se assim acontecesse o velocímetro não teria feito qualquer
alteração. Aliás, senti os sintomas normais de gs negativos, e não falta
de ar.
Teria havido mais testemunhas do
caso?
Talvez. Há sim duas testemunhas que são despertadas pelo "roncar" do avião
- uma barulheira infernal que segundo elas, parecia cair em "folha
morta"! A seguir o avião desaparece do horizonte visual e ouvem um barulho dos
diabos que deve ter sido o seguinte: quando avião iniciou a picada e já não tinha
possibilidades de recuperação, desliguei o motor. Já próximo do solo, vi que havia
possibilidades de recuperação, isto é, quando o nariz do avião deu indícios de querer
levantar puxei o manche para trás e meti as manetes à frente; esta operação provoca
uma espécie de estoiro, ratéres o que é provável que eles os tenham ouvido.
Foi examinado clinicamente quando
regressou à base?
Sim. Quando aterrei, fui ao médico que me examinou e me encontrou em estado
perfeitamente normal. Quando saí do avião vinha a tremer, pelo susto que apanhei...
A partir daí
até agora (altura da entrevista) não tem sentido quaisquer sintomas estranhos ou outros
frequentes, nomeadamente dores de cabeça?
Não! Tenho-me sentido de perfeita saúde no estado equivalente ao que me encontrava
antes da observação.
Faz alguma ideia do que seria o que
terá visto?
Positivamente não! Só sei que não era avião, helicóptero nem nada do que conheço
em material de aeronáutica. Houve colegas que tentaram insinuar que teria feito um voo
invertido e que o que eu tinha visto era a Barragem de cabeça para baixo! Só que não
sou louco, pois se o tivesse feito teria quatro furos na cabeça, que correspondem a
quatro parafusos salientes no tecto...
Já agora, pode dar-nos as dimensões
do "objecto"?
Teria entre 13 a 15 metros de comprimento...
Foi feito algum relatório?
Foi feito um relatório, do qual se tiraram várias fotocópias que seguiram para o
Estado-Maior.
Há alguma opinião formal do
comando?
Não, até agora...
Foi a primeira vez que viu um objecto
deste tipo?
Sim! À vista... foi!
Que pensa do fenómeno?
Um "objecto" estranho... Por aquilo que vi, não sei o que será...
Controlador militar (da base) confirma experiência do piloto !
José Vicente
Saldanha, 2º. Sargento, controlador de tráfego aéreo da FAP: «Estava de
controlador de dia, na B.A.3, quando se dá a descolagem de um DO-27, pilotado pelo
furriel Francisco Rodrigues, que me pediu autorização para ir a Castelo de Bode. A
visibilidade não era muito boa. O céu estava carregado de nuvens a cerca de 3 mil pés.
Depois do piloto já se encontrar na zona pediu-me para o informar, se havia mais algum
avião nas redondezas do aeródromo. Respondi-lhe "negativo", informando-o de
que ele era o único avião que se encontrava no circuito. Passado talvez, cerca de um
minuto, a única coisa que oiço no rádio, é um grito, uma exclamação que, depois vim
a saber - ao falar com o piloto - se tinha dado na altura dele assinalar um
"Objecto" meio imerso nas nuvens. Para se certificar, tinha realizado uma volta
de 360º. obtendo a confirmação do referido OVNI!
Esquema da Zona onde decorreu o encontro
.....................................
Disse ainda o furriel Francisco que, na altura em que deparou com o objecto
meio tapado pelas nuvens, sentiu vibrações no motor e nessa altura
encontrando-se a 3.000 pés veio a "derrapar" até à copa das árvores.
Foi disse ele uma descida muito rápida, tendo sentido grandes dificuldades
em recuperar o avião.
Onde foi feita a aterragem do avião?
Foi na base. Quando o piloto foi fazer o relatório às Operações encontrava-se
bastante consternado, sufocado e pálido. E o caso não era para menos!
Quanto tempo tinha passado após o momento em que o furriel Francisco Rodrigues deslocou
da B.A. 3, e enfrentou o "objecto"?
Ele descolou da pista 09. Castelo de Bode fica a cinco milhas da BA 3. A dada altura
deixamos de ver, há uns montes que nos cortam a visibilidade e ao facto de existirem
nuvens bastantes baixas. Mas suponho que a sua comunicação foi recebida passados 3
minutos. Passados que foram depois 40 segundos, é que oiço a tal exclamação no rádio.
Essa exclamação de que fala teria sido um grito de medo?
Sim. Deu-me a sensação de ter sido um grito aterrado!
Do seu posto não havia a possibilidade de ver o "objecto"?
Não, nada mesmo. Para além do céu se encontrar bastante carregado, e do
"tecto" estar alto, o aeródromo estava abaixo dos mínimos e o
"tecto" a 2.500 a 3.00 pés. Claro que sei destas informações porque ele o
disse escreveu no relatório.
Quanto ao "objecto", disse que o viu numa forma
circular com três saliências um pouco abaixo da sua parte, mas segundo frisou, não o
viu totalmente...
Para além das nuvens, como eram as condições meteorológicas?
A visibilidade horizontal estava com cerca de sete quilómetros, as nuvens a uns 3 mil
pés e poderia haver um pouco de bruma à distância.
O seu contacto com o furriel foi logo após a aterragem deste?
Sim, foi nessa altura que o vi bastante pálido e com dificuldades em falar. Viu-se que
tinha passado por uma situação que não é nada normal! E mesmo que a sua situação
tivesse sido por uma falha de motor, estou convencido que não haveria uma descida tão
acentuada! Mesmo à altitude que ele se encontrava, se tivesse acontecido falharem-lhe os
motores, poderia aterrar normalmente na base.
Depois do sucedido houve alguma reunião com oficiais superiores?
Falámos com o oficial-dia às Operações, que era o capitão Borralho, e depois fez-se
o relatório. Para além deste contacto, houve uma troca de impressões entre colegas.
Foi a primeira vez que, ao serviço da Força Aérea, lhe sucedeu um caso desta
natureza?
Foi a primeira vez aqui em Portugal. Em Angola, já tinha assistido, em Vila de Henrique
de Carvalho, à presença de um "objecto", ao fundo da pista à noite. Possuía
uma forte luminosidade que se alterava com a sua altitude. Relatei isso e não fui o
único a vê-lo. Os soldados que estavam de guarda também o viram. Deslocaram depois dois
aviões e mais tarde o comandante de um dos aparelhos jurou a pés juntos que havia visto
realmente o objecto.
Lembra-se da data desse acontecimento?
Foi em Novembro de 1973.
Em relação à sua forma e dimensão...?
A forma não lhe posso dar porque víamos
apenas a luz. Mas as suas dimensões podiam-se comparar às de um Boeing. Vimo-lo
durante cerca de um quarto de hora, até que acabou por desaparecer para o horizonte!
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